Três semanas. Esta foi o tempo que a cabeleireira Sara Fernanda da Silva, moradora de Jaú, no interior de São Paulo, teve de “gestação” até dar à luz um casal de gêmeos, no início de fevereiro. O que parece um parto prematuro, na verdade, foi uma descoberta tardia.

Sara só soube da gestação quando já havia completado oito meses. A cabelereira, mãe de outros três filhos, desconfiou de algo quando começou a sentir fortes dores nas costas, mas jamais imaginou que seria uma gravidez.

“Minha reação? Nem sei até agora. Fiquei estagnada, parece que minha alma saiu do corpo. Eu não conseguia falar, me expressar. Eu fui embora para casa e chorei. Foi um desespero”, lembra.

la já havia feito exames de gravidez nos últimos meses, incluindo o teste de HCG — o mais indicado —, mas todos deram negativo, inclusive o de sangue.

“Em janeiro, fiz um teste de sangue, no dia 2, e deu negativo o HCG. Fiquei tranquila, pensando que era outra coisa. Mas minha barriga começou a ficar dura, e eu comecei a passar mal”.

Rotina exaustiva e rede de apoio
Apesar do susto e da ausência de pré-natal, os gêmeos Maia e Gael nasceram saudáveis e logo puderam ir para casa.

O verdadeiro desafio para Sara começou depois: conciliar os cuidados dos recém-nascidos com a criação dos outros filhos — um adolescente de 12 anos, um menino de cinco e uma bebê de um ano.

A rotina é exaustiva. Sara calcula que são mais de 20 trocas de fraldas diárias entre os gêmeos e a filha mais nova, além de preparar aproximadamente 15 mamadeiras por dia.

“Eu tenho muita ajuda dos meus pais, moro ao lado deles. A adaptação está sendo difícil, estou tentando criar uma rotina. Minha filha de um ano está muito ciumenta, chora se eu chego perto dos gêmeos. O mais velho, de 12 anos, me ajuda muito, ele cuida dos bebês comigo, dá banho e ajuda a alimentar. O de cinco anos também está sempre por perto”, relata.
Mesmo com cinco os filhos pequenos e a carga de trabalho doméstica, Sara ainda consegue atender algumas clientes no seu salão de beleza, que funciona na própria casa.

Sara, que compartilha nas redes sociais a rotina intensa, explica que conta com uma verdadeira “força-tarefa” familiar para conseguir dar conta de tudo.

“Minha família toda ajuda muito. Meus pais, minhas primas, todos. Sem essa rede de apoio, eu não conseguiria. Meu filho de 12 anos é o que mais me ajuda com os bebês. Ele cuida deles, faz mamadeira, troca fraldas e até ajuda com a minha filha de um ano”, disse.

“Eu acordo, ou melhor, sou acordada, porque meus filhos levantam super cedo. Às 5h ou 6h, eles já estão de pé. Dou o primeiro banho nos gêmeos e coloco eles para tirarem um cochilo. Depois, começo a trabalhar no meu salão. O primeiro cliente chega às 8h. Enquanto isso, meu filho mais velho já foi para a escola, e o bebê de um ano ainda está dormindo. Paro no meio do atendimento para trocar a fralda da bebê e a levo para a casa dos meus pais. Quando termino de atender, volto para cuidar dos gêmeos. Dou mamadeira e troco as fraldas deles.”

O período da tarde é dedicado aos gêmeos e à organização da casa. Quando os filhos mais velhos chegam da escola, Sara ajuda com as lições, e a rotina continua até a hora de dormir.

“Preciso que a casa fique em silêncio às 21h, mesmo que eles não estejam com sono, para que os gêmeos e a bebê consigam se acalmar e dormir”, conta.

Nem tudo é fácil. Apesar de contar com ajuda, Sara confessa que há momentos em que se sente sobrecarregada. Ela lembra de uma noite particularmente difícil, quando vários filhos começaram a chorar ao mesmo tempo.

“Os gêmeos, o de cinco anos e a de um ano estavam chorando. Me vi perdida. Saí de casa, fechei o portão, sentei na calçada e chorei por dez minutos. Depois, voltei e segui minha função de mãe”, desabafa.

Gravidez silenciosa
A gravidez silenciosa, também chamada de gravidez oculta ou, em termos médicos, gravidez críptica, ocorre quando a mulher não percebe que está grávida, devido à ausência de sinais ou sintomas típicos. Apesar disso, o feto está presente e viável.

Em entrevista ao g1, a médica pediatra Leilane Rocha Migliori explica que, na maioria dos casos, isso acontece por causa de ciclos menstruais irregulares ou pela ausência de sinais evidentes da gestação. É um fenômeno considerado raro, que ocorre aproximadamente em uma a cada 475 a mil gestações (0,1% a 0,2%).

A médica também destacou que a principal preocupação nesses casos não é o choque da descoberta tardia da gravidez, mas, sim, a falta de acompanhamento pré-natal.

“A principal complicação é a ausência de acompanhamento pré-natal, o que pode expor o feto a comportamentos prejudiciais, como o consumo de álcool ou tabaco, e resultar em complicações no parto, como dificuldades em identificar o trabalho de parto, parto prematuro ou necessidade de cesariana. Além disso, a saúde da mãe também pode ser afetada, já que a gestação não foi monitorada, o que aumenta o risco de pré-eclâmpsia, síndrome HELLP e diabetes gestacional”, alerta.
A pré-eclâmpsia é uma síndrome hipertensiva que ocorre durante a gravidez, caracterizada por hipertensão e excesso de proteína na urina. Já a síndrome HELLP é uma complicação grave da pré-eclâmpsia, que pode ocorrer durante a gravidez ou no pós-parto.

A diabetes gestacional, por sua vez, é uma doença metabólica que ocorre durante a gravidez, caracterizada por níveis elevados de açúcar no sangue.

Via G1